Scott Derrickson tem realizado alguns dos mais emblemáticos filmes de terror do século 21. “O Exorcismo de Emily Rose” (2005) e “Sinister” (2012) tornaram-no um dos realizadores mais cobiçados do terror psicológico a trabalhar em Hollywood. Esta nova longa-metragem, adaptação de um conto de Joe Hill, traz-nos um triplo reencontro entre Derrickson, C. Robert Cargill e Ethan Hawke e o resultado dificilmente poderia ser mais satisfatório. “The Black Phone” é um regresso temporal ao passado, à década de ouro do terror em Hollywood (“Carrie”, “Texas Chainsaw Massacre”, “The Exorcist” todos foram feitos nos anos 70), não deixando de representar uma lufada de ar fresco naquilo que tem sido o Cinema de terror moderno.
Passada nos subúrbios de Denver, em 1978, esta é a história de Finney, um rapaz de 13 anos que é raptado e preso numa cave à prova de som pelo assassino em série “The Grabber”. A narrativa é simples e o desfecho final previsíveis, este não é um filme que satisfaz o espectador pelo seu original desenvolvimento narrativo. A surpresa aqui prende-se na maneira como Scott Derrickson consegue equilibrar o thriller, terror, atividade paranormal e “jump scares” – que são poucos, mas sempre eficazes – num filme que nos deixa preocupados com as personagens, sem nunca as romantizar. Da violência na escola aos problemas em casa este é um filme que opta por nunca ser fácil de digerir, tornando a nostalgia dos anos 70 um passado menos embelezado do que é comum encontrarmos nos retratos da época.
As personagens principais são também do melhor que o filme nos apresenta. Se Ethan Hawke já consolidou o seu lugar com um dos atores mais versáteis das últimas décadas, as grandes surpresas vêm dos atores mais jovens, estreantes em grandes filmes de Hollywood, nos papéis de irmão e irmã. Carregam o filme através da emoção que transmitem e fazem-nos acreditar no sofrimento, felicidade e medo que sentem em cada cena. Será interessante perceber que papéis interpretarão no futuro.
O Terror é, de todos os géneros cinematográficos, aquele onde mais facilmente conseguimos encontrar falhas óbvias. Grande parte dos filmes deste meio cometem falhas narrativas para justificar as suas ações e perdem o cuidado técnico para proporcionar por tensão superficial. “The Black Phone” não é exceção à regra e está longe de ser um filme perfeito. Ganha na maneira como consegue ser credível no envolvimento das suas personagens e ao usar da melhor maneira o legado dos clássicos dos anos 70. Se não ficar mais nada deste filme ao menos Scott Derrickson conseguiu trazer para 2022 um vilão ao nível de Freddy Krueger ou Michael Myers.
Classificação: 3 em 5 estrelas. Texto escrito por Francisco Gomes.
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