Muito se tem falado de Tom Cruise nos últimos meses, dos mais elevados e merecidos elogios, aos naturais exageros de uma figura que se tornou maior do que a sua própria pessoa. Já há muito tempo que o ator norte americano ganhou um lugar de respeito em Hollywood, solidificado por papéis versáteis em filmes como “Jerry Maguire”, “Magnolia”, “Eyes Wide Shut” ou a saga de cinco filmes de ação “Missão Impossível”. O seu percurso em Hollywood é quase único, de um ator que soube constantemente readaptar-se e manter-se relevante numa indústria em constante mudança. O principal ponto de partida para esta carreira, agora com mais de 40 anos, aconteceu quando, em 1986, estreou “Top Gun”. Apesar de não ser o maior fã do filme original consigo perceber o marco que este representou na cultura pop dos anos 80. Ninguém consegue ficar indiferente à música, acrobacias aéreas ou companheirismo de Pete Mitchell e amigos. Acontece que, 36 anos depois, num período onde o Cinema de grande orçamento parece viver de sequelas, prequelas e sagas tornadas autênticas máquinas de dinheiro (Star Wars e Marvel são monopólios desse fenómeno comercial) chega-nos “Top Gun: Maverick”.
Realizado por Joseph Kosinski (“Oblivion” ou “Tron: Legacy”) a nova instalação da saga Top Gun conta com os regressos de alguns dos personagens do primeiro filme, não deixando, no entanto, que a nostalgia do passado seja o marco central da narrativa. Essa será talvez a grande virtude de “Top Gun: Maverick” - ter capacidade de sobreviver como um só filme, referenciando eventos e personagens do primeiro filme, mas nunca estando dependente dele. Aliás, está tão pouco dependente da obra de Tony Scott que é capaz de a superar em praticamente todos os aspetos.
Das atuações à narrativa, passando pela natural evolução dos efeitos especiais tudo contribuí para fazer deste um dos grandes filmes de ação dos últimos anos. "Top Gun: Maverick" é um “blockbuster” à antiga que, tal como Tom Cruise indica ainda antes do filme começar, quando já nos encontramos no escuro da sala de Cinema, merece ser visto no grande ecrã. Tudo é megalómano, de uma grandiosidade quase excessiva, que nunca chega a ser forçada por ter bases sólidas de uma realização exímia e atuações muito competentes.
Se Milles Teller é melhor ator que Anthony Edwards, também Jennifer Connely consegue ser mais carismática que Kelly McGillis. Já Val Kilmer e Tom Cruise permanecem em topo de forma e estão tão bem neste filme agora que são amigos próximos, como há 36 anos atrás quando não se aguentavam um ao outro.
O filme original deixava-se muitas vezes deslumbrar pela vontade de mostrar um estilo visual próprio e apelativo, deixando para trás o caminho que a história tinha de percorrer. Por sua vez este novo argumento conseguiu corrigir muitos dos erros do passado e contar uma história onde, para além do desenvolvimento dos personagens, existe um claro fio condutor, um local bem definido para onde a narrativa nos quer levar. Sabemos quem são os inimigos, quem queremos ver vencer no final e as razões que motivam os personagens estão bem definidas.
Pouco mais há a acrescentar sobre o marco técnico que este filme alcança. Com efeitos especiais completamente inovadores é difícil não sentir uma tremenda ansiedade ao ver as acrobacias aéreas dos F-18 aqui pilotados. Foram precisos anos para aperfeiçoar as técnicas possíveis de utilizar em alguns dos momentos filmados dentro dos aviões e, tanto a montagem, como a edição de som vão ter, pelo menos uma nomeação nos Óscares do próximo ano (será muito difícil este filme não limpar as categorias técnicas na cerimónia de 2023).
No início do filme assistimos a um diálogo entre Pete Mitchell e os seus superiores. É repreendido pela sua ousadia, afirmam que pilotos como ele já não têm lugar nos dias de hoje, que foram ultrapassados pela inovação tecnológica. Assistindo a esta cena é impossível não estabelecer um paralelismo com a realidade, com aquilo que é a figura de Tom Cruise como o último grande ator de uma geração em decadência. A geração dos filmes que, tal como “Top Gun: Maverick”, são feitos para ser vistos no grande ecrã.
Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por Francisco Gomes.
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