Avançar para o conteúdo principal

Os Predadores: somos todos loucos, uns mais que outros

 


O actor Pietro Castellitto estreia-se com "Os Predadores" na escrita e realização, e que estreia! Cada vez sinto mais que os filmes estão a ficar, no geral, muito redutores e numa roda constante de reciclar técnicas de escrita e de realização que já não conseguem surpreender, e não trazem nada de novo para o panorama cinematográfico. No entanto existem filmes que nos surpreendem, felizmente, como por exemplo "Titane" ou estes 'predadores'.

A história passa-se em Roma, onde duas famílias socialmente muito distantes conseguem por a mais b colidirem numa trama que vai gerar conflitos internos e nestes meios familiares, no mínimo inusitados. Como comédia o filme funciona bem porque tem alguns momentos que eu achei completamente inesperados e surreais, num mundo que parecia quase paralelo ou distópico mas que por outro lado vemos que são situações plausíveis e perfeitamente possíveis de acontecer. E o argumento sabe disso e brinca com isso com um certo à vontade que me fascinou. Por outro lado, o filme falhou em dar mais espaço de manobra às personagens e a criar uma maior ligação entre a história de cada uma delas com o público, sendo que ficamos como uma sensação de que faltava mais contexto em certas situações. Se o filme tivesse mais uns trinta minutos talvez chegasse para tal. Mas entendo a escolha que aqui foi feita, e repito, para uma estreia na escrita e realização é um trabalho extraordinário e que me deixa curioso para o que virá aí de Pietro Castellitto. Não é de admirar que o filme arrecadou o prémio de Melhor Argumento no Festival de Veneza em 2020.

Existem umas quantas cenas dignas de referência, mas sem colocar aqui spoilers tenho que destacar a genialidade da cena de jantar onde se irá dar os parabéns à avó de uma das famílias, onde todos os diálogos são exemplares, incluindo uma cena de rap deliciosa e um culminar perfeito. Uma das melhores cenas de comédia que vi nos últimos anos em cinema. Também destaco uma cena de enforcamento que não corre como esperado e que gera um conflito interessante, com uma própria crítica à indústria do cinema.

Para concluir gostava também de deixar uma nota a todo o elenco que parece ter sido escolhido a dedo, e todos, sem excepção, fazem um trabalho muito competente. E gostaria também de salientar que apesar deste filme poder ser categorizado como talvez um filme 'tipicamente' italiano na forma como aborda o género, é certo que é muito mais universal do que isso.

O filme estreia agora comercialmente no dia 3 de Março nas salas de cinema em Portugal.

Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por André Marques.

Os Predadores: somos todos loucos, uns mais que outros

Comentários

Mensagens populares deste blogue

"Milan Kundera, da Brincadeira à Insignificância": um filme sobre o legado de Milan Kundera

Milan Kundera é um autor envolto em mistério. Não aparece em público e, em 30 anos, não deu uma única entrevista pelo que apenas podemos conhecê-lo através do seu trabalho. Os seus ensaios e reflexões filosóficas são muito reveladores. Este filme, além de outras questões, leva-nos a interrogar: O que é que na obra de Kundera, o elevou ao estatuto de autor lendário? O que há de tão único nos seus livros? Ajudando-nos neste trabalho de investigação, está um estudante que tem uma fantástica oportunidade para conseguir uma entrevista. Após semanas de espera, num café à porta da casa de Kundera, enquanto lê as suas obras, começa a identificar-se com algumas das ideias do autor. É através deste estudante que começamos a perceber melhor a mensagem de Kundera, como e porquê que as suas estórias continuam a emocionar-nos e que pensamos, não apenas nos protagonistas, mas também em nós próprios. Milan Kundera nasceu a 1 de abril de 1929, em Brnö, na antiga Checoslováquia. Em 1975, fixou-se em Par

MOTELX 2022 - Os Filmes Vencedores da 16.ª edição

"Vórtice", de Guilherme Branquinho, é o grande vencedor do Prémio SCML MOTELX para melhor curta-metragem portuguesa, na 16.ª edição do MOTELX. "Speak No Evil", do dinamarquês Christian Tafdrup, arrecada o Prémio Méliès d’argent para melhor longa-metragem europeia. Já são conhecidos os vencedores da 16.ª edição do MOTELX, que desde 6 de Setembro tem mostrado o melhor do cinema de terror nacional e internacional, num ano surpreendente e repleto de público e de fãs. O Festival termina hoje com alguns dos filmes da programação já exibidos e, pelas 21h15, com uma nova oportunidade para assistir às melhores curta e longa europeias. Foram anunciados, na noite passada, durante a Sessão de Encerramento da 16.ª edição do MOTELX, na sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, os vencedores das 5 competições do Festival. O Prémio SCML MOTELX - Melhor Curta Portuguesa 2022 - a maior distinção concedida em Portugal para curtas-metragens (5.000€), com o apoio da Santa Casa da Mis

Dario Argento regressa ao MOTELX para apresentar o seu novo filme “Dark Glasses”

O mestre do terror italiano, o realizador Dario Argento , regressa ao MOTELX para a 16.ª edição do Festival, que decorre entre os dias 6 e 12 de Setembro, no Cinema São Jorge . O mote é a estreia nacional de “ Dark Glasses ” (Itália, França, 2022), o novo giallo do realizador de culto, que recupera as marcas autorais do seu legado e assinala o reencontro com a filha Asia Argento no grande ecrã. O cineasta, que foi convidado especial há precisamente 10 anos, na 6.ª edição do MOTELX, é ainda protagonista de uma masterclass onde vai abordar os seus processos criativos, completada por um Q&A com a plateia e por uma sessão de autógrafos, durante o Festival. Para Pedro Souto e João Monteiro, os directores artísticos do MOTELX, Dario Argento “é a maior lenda do cinema europeu de terror, que teve uma tremenda influência no cinema norte-americano e continua a ser uma referência para muitos cineastas, basta lembrar o recente remake de “Suspiria” ou o papel de protagonista no último filme de